Mata Atlântica: o bioma das Cataratas do Iguaçu

Pelo menos 140 milhões de brasileiros vivem em terras emprestadas da Mata Atlântica

Territorialmente falando, o Brasil é dividido em cinco regiões: Norte, Sul, Nordeste, Sudeste e Centro Oeste. Já a natureza, esta catalogou o Brasil de maneira diferente e os cientistas o dividiram em seis biomas. Bioma é uma região onde predominam certos tipos de vegetação, animais, insetos, pássaros e paisagens, todos dependentes da existência e saúde do outro. Os seis biomas do Brasil são, em ordem alfabética: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.

A Mata Atlântica é o bioma onde fica Foz do Iguaçu e, por consequência, as Cataratas do Iguaçu e ocupa uma área de 1.315.460 quilômetros quadrados em 17 estados brasileiros.

O Brasil começou neste bioma. São mais de 500 anos de atividades humanas que promoveram grandes mudanças no território natural do bioma. Por isso, desse imenso território, hoje só restam 12% dele ainda forrado com as florestas originais.

No domínio da Mata Atlântica, do Nordeste ao Sul, existem 131 unidades de conservação federais, 443 estaduais, 14 municipais e 124 privadas, distribuídas por dezesseis estados. Mas, não nos enganemos. Esses números grandiosos não são suficientes, já que as áreas protegidas cobrem menos de 2% do bioma e algumas delas são extremamente pequenas. No retrato atual, se vê que das 627 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção, 380 são da Mata Atlântica.

Porém, não podemos esquecer que a Mata Atlântica brasileira não é uma invenção da natureza específica para o Brasil ou para a América do Sul, já que a Mata Atlântica é a mesma Selva Misionera para os argentinos e o Bosque Atlántico del Alto Paraná (BAAP) para os Paraguaios. A Mata Atlântica é parte dos biomas de uma região do planeta que se chama “Neotropical”.

E o que tudo isso tem a ver com o turismo? O que tudo isso tem a ver com o agradável, enriquecedor e insubstituível hábito de viajar? Primeiro, ajuda a entender que nada no planeta é isolado e ajuda a tirar mais proveito das viagens. Entre os pássaros típicos do Brasil, são apresentados por exemplo o Tuiuiú ou o cabeça seca, o tucano, a arara vermelha, ou a arara Canindé. Todos esses pássaros ou animais, como dizem os biólogos, ocorrem ou “acontecem” do Brasil até a Nicarágua, Guatemala, ao México e à Flórida. Alguns extrapolam esse limite, pois não há muros que barrem a migração deles, embora haja espécies que já são prejudicadas por invenções humanas do tipo “muros internacionais”.

Exclusivos da Mata Atlântica

Isso não impede que a Mata Atlântica tenha espécies de árvores, aves, mamíferos, répteis e insetos exclusivos dela. E muitos deles em risco de extinção. De acordo com informações da equipe científica do Parque das Aves (Foz do Iguaçu), única instituição do mundo focada na conservação de aves da Mata Atlântica, esse bioma tem 120 espécies e subespécies de aves ameaçadas de extinção ou, em outras palavras, 41% das aves brasileiras em risco de extinção.

Uma delas é a pararu-espelho (Claravis geoffroyi), uma pombinha listada em perigo crítico de extinção por organizações internacionais e anunciada como extinta no Paraná. A última visualização dela na porção argentina da Mata Atlântica foi registrada em 1953. Foi a descoberta da extinção da pararu-espelho que influenciou a decisão do Parque das Aves em dedicar-se à preservação da Mata Atlântica para evitar que outras aves sigam o mesmo caminho.

Entre os projetos do Parque, está o de reprodução de espécies para conservação. É o caso do mutum-de-alagoas (Pauxi mitu), extinto na natureza desde 1970. Mesmo mantido em zoológicos e instituições, só existem 250. É uma comunidade pequena deles no mundo. Em 2015, o Parque das Aves recebeu 10 exemplares do mutum-de-alagoas. Desde então, já reproduziu 20. Foi a primeira instituição a conseguir a reprodução dele em cativeiro. A ação é parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-de-alagoas (PAN).

Pode-se destacar ainda as parcerias entre o Parque das Aves e instituições nacionais como o Projeto Jacutinga, iniciativa da Sociedade para Conservação das Aves do Brasil, que tem como meta a reintrodução na Mata atlântica dessa espécie altamente ameaçada. Em 2017, o Parque das Aves enviou a primeira jacutinga para ser reintroduzida na Serra da Mantiqueira. A área contemplada pelo projeto, iniciado em 2014, é a região de São Francisco Xavier, em Caraguatatuba (SP) e também no Rio de Janeiro.

No quesito pássaros livres na natureza, um projeto recente do Parque das Aves se chama Papagaios do Gramadão, na categoria ciência cidadã. Gramadão é o nome de uma praça pública em Foz do Iguaçu onde acontecem eventos populares como o Natal de Luz, festas juninas, shows, festivais e até o campeonato de arremesso de celulares. Com tanto movimento, é do conhecimento do público local a existência de uma feliz e barulhenta colônia de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva). Todos os finais de tarde os papagaios vão ao Gramadão para dormir em “touceiras” de eucaliptos existentes no espaço.

O Núcleo de Conservação do Parque das Aves se interessou em ver o que acontecia neste ambiente de dormitório noturno e decidiu acompanhar as revoadas de chegada no fim do dia e partidas dos papagaios rumo a diferentes direções nas primeiras horas da manhã.

Dica do Visit: visitar o Gramadão antes do anoitecer para ouvir o som dos papagaios.

Como método, a equipe do Parque das Aves escolheu o monitoramento quinzenal da quantidade de animais que usam o local. Cada monitoramento conta em média com 10 colaboradores do Parque das Aves, cerca de 3 a 4 pessoas por vez. “No entanto, merece destaque a participação de cerca de 50 colaboradores em uma ocasião, na qual profissionais das mais distintas áreas do Parque tiveram a oportunidade de voluntariamente conhecer uma atividade de monitoramento populacional in situ”, celebra uma nota do parque. Mas, a celebração de verdade aconteceu quando em um só dia, 21 de março de 2019, foram registrados 406 papagaios individuais.

O papagaio-verdadeiro é o papagaio mais traficado do Brasil. A notícia de que 406 deles voam livres nos céus de Foz do Iguaçu é muito boa. Porém, por sua qualidade de imitar a voz humana, é o número um na lista dos traficantes de animais. Só no Mato Grosso do Sul, 10 mil filhotes foram apreendidos desde 1988. Um dos projetos de proteção deste papagaio é financiado pelo Parque das Aves.

O que nós, turistas, podemos extrair de todas essas informações? Da importância de, a cada viagem, respeitar o ambiente local, incentivar a preservação da fauna e da flora e visitar locais que destinam seus recursos para a preservação das espécies, como o Parque das Aves e as Cataratas do Iguaçu.

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